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Crítica teatral do libertário João Apolinário é lançada

Em dois volumes, livro reúne 329 imagens e 332 críticas escritas pelo jornalista e poeta português entre 1964 e 1971.


“Em arte, o compromisso, o engajamento
das ideias e das emoções criadoras, têm um
processo: não o culto de uma personalidade ou de
um sistema, mas a solução do homem no que nele
há de cósmico e universal, isto é, eterno”.

João Apolinário

O jornalista e poeta português João Apolinário, critico teatral do jornal Última Hora de São Paulo, produziu de 1964 a 1971, uma obra crítica de referência para o conhecimento do teatro paulista e brasileiro. Num período de excepcional criatividade, tornou evidentes as contradições e desajustes de uma época que na sua visão “influenciava e cilindrava o homem como produto econômico e espiritual da engrenagem social do capitalismo”.

Com edição da Imagens, o livro “A Crítica de João Apolinário – memória do teatro paulista de 1964 a 1971” é resultado de um projetocontemplado no Petrobras Cultural que reúne um rico material: 332 críticas e 329 imagens entre fotos e programas de espetáculos. Seu lançamento será no dia 15 de maio, a partir das 20h, no TUCA (Teatro da Universidade Católica de São Paulo). Também haverá uma roda de conversa com Cesar Vieira, Oswaldo Mendes, Ana Salles, Regina Helena Paiva Ramos e João das Neves.

Dividida em dois volumes, a obra é singular e faz uma análise ampla do quanto se viu de original, de afirmação da cultura brasileira e do significado que essa arte teve em São Paulo. Para escrever com liberdade, sem possíveis restrições da direção do jornal, Apolinário abriu mão de qualquer remuneração pelo seu trabalho. O acervo completo do crítico – cerca de 500 críticas, 1.200 fotografias e 250 programas de espetáculos – será doado ao Arquivo Edgar Leuenroth (AEL), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O objetivo é dar livre acesso ao acervo a pesquisadores e estudiosos do teatro.

E não à toa Apolinário foi o homenageado deste ano do prêmio Os Melhores da Arte em 2012 da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), entregue em meados de março. Como explica o jornalista, ator e dramaturgo Oswaldo Mendes em seu texto “Rascunhos da memória”, que faz parte da abertura do livro, Apolinário percebeu que “era preciso congregar os críticos de arte de todas as áreas, do teatro ao rádio e à televisão, do cinema à música popular, da literatura à música erudita, do rádio às então chamadas artes plásticas, enfim reunir um número expressivo de vozes que pudessem ser ouvidas também como resistência à censura oficial. O caminho mais curto para esse objetivo seria transformar a Associação Paulista de Críticos de Teatro (APCT) em APCA”.

Em 1972, assumiu sua presidência e redigiu seus estatutos. Para que a entidade ganhasse visibilidade, Apolinário criou uma série de premiações, entre elas, o Prêmio Gil Vicente para o teatro. A primeira festa de premiação da nova entidade aconteceu no histórico TUCA, já então palco da resistência contra a ditadura (como se vê, o local de lançamento do livro não foi uma escolha aleatória).

Intelectual português que se exilou no Brasil em dezembro de 1963, por oposição cultural ao regime de António de Oliveira Salazar, Apolinário viveu em São Paulo, até 31 de março de 1964, os seus primeiros três meses de vida sem a rigidez ditatorial. Nasceu no dia 18 de janeiro de 1924 em Belas, Sintra. Tinha dois anos de idade quando começou em seu país um período longo – quarenta e oito anos – de enorme austeridade social, política, econômica e cultural.

Tendo frequentado as Faculdades de Direito das Universidades de Coimbra e de Lisboa, onde se graduou, aos 21 anos de idade era jurista, poeta e jornalista. Foi correspondente de guerra e nessa qualidade fez parte, como tenente do exército francês, em 1945, do primeiro contingente de jornalistas que viu na sua extensão real, física e humana, a devastação causada na Europa pelas forças em conflito na Segunda Guerra Mundial e os horrores dos campos de concentração. Isso lhe deixou marcas permanentes. Deixando Paris e, de volta a Portugal em 1949, sua ação cultural subsequente foi abertamente de oposição ao salazarismo e a todas as formas de opressão.

Depois de doze anos de exílio no Brasil voltou a Portugal e, no início de 1975, viveu a liberdade que a Revolução de 25 de Abril de 1974 permitiu. Até outubro de 1988, com 64 anos, em Marvão onde vivia com sua mulher, a pesquisadora brasileira Maria Luiza Teixeira Vasconcelos, João Apolinário preocupou-se muito com sua poesia, sempre irrealizada. Nos seus últimos quatorze anos editou Apátridas, AmorfazerAmor, Poemas Cívicos, O Poeta Descalço, Eco Humus Homem Lógico e deixou inéditos os Sonetos Populares Incompletos.

“Uma formação filosófica sólida fundamentou o método de seu trabalho. Encontros e desencontros consigo próprio, por vezes alegres, contradições, sobretudo uma grande ironia, por vezes perversa, resultaram de “avisar toda a gente”, opção dominante e exigente em sua vida”, escreve Maria Luiza na abertura do livro.

“(...)

É preciso avisar toda a gente
Transmitindo esse morse de dores
É preciso imperioso e urgente
Mais flores mais flores mais flores”

O que
Lançamento do livro A Crítica de João Apolinário – memória do teatro paulista de 1964 a 1971.
Quando
15/05/2013, a partir das 20h.
Onde
TUCA – Rua Monte Alegre, 1024 – Sala Paulo Freire – Piso Superior
Mais informações
http://memoriajoaoapolinario.blogspot.com.br/

Maria Luiza Teixeira Vasconcelos, organizadora do acervo e da obra A critica de João Apolinário – memória do teatro paulista de 1964 a 1971, é pesquisadora e professora de História. Licenciada em História pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da PUC Campinas, foi professora de História e Cultura do Brasil entre 1964 e 1974. De 1974 a 2009, deu aulas de História de Portugal em escolas de Cascais, Sintra e Castelo de Vide. Frequentou em São Paulo, Lisboa e Estocolmo cursos de pós-graduação em Metodologia da História, História da Arte e Avaliação do Rendimento Escolar e do Sistema de Ensino. É viúva de João Apolinário.

Imagens é uma empresa presente há mais de 20 anos no mercado, que atua na área de educação, comunicação e cultura. Elabora e realiza projetos educacionais, ambientais e culturais. Presta consultoria em diversas áreas: eventos e apresentações artísticas, produção de atividades culturais, vídeos, programas de TV e rádio, material áudio visual, filmes educacionais, artísticos e culturais e elaboração de textos, roteiros e publicações.

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Lia Vasconcelos
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